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27/07/2014

Um copo de desapego, por favor



Ei, garçom. Tá vendo aquele cara sentado àquela mesa? Aquele mesmo acompanhado daquela moça bonita. Olha só o jeito como ele a olha, fazendo-o parecer vulnerável, mas ele não tem nada disso. É tão seguro de seus atos quanto você possa imaginar. Pobre moça, ao olhar aqueles olhos que parecem inofensivos, deve achar que ele é diferente dos outros com quem ela deve ter se decepcionado.

Olha só, agora ele vai pegar a mão dela e elogiar o quão macia a pele dela é, e como o sorriso dela o encantou. Pobre moça, eu poderia dizer a ela para não cair nessa roubada, mas já é tarde, ela abaixou a cabeça e sorriu. Ele a ganhou. É assim com todas. Ficam tão vulneráveis com essas frases ensaiadas, que mal percebem a cilada em que estão se metendo.

Daqui a pouco eles vão sair daqui de mãos dadas. Ele pagará o quarto mais caro e romântico dessa cidade, e o resto... Bom, o resto você já sabe. Amanhã a moça chora e o moço sorri. Ah, é, garçom. Você deve estar se perguntando como eu sei de tudo isso. Mas olha lá eles passando, e como eu disse, de mãos dadas. Eu já estive sentada àquela mesa, bebendo o mesmo vinho e ouvindo as mesmas palavras. É, garçom, eu já fui aquela moça.

03/07/2014

Perdoa o pobre rapaz


Era o primeiro dia de outono quando ele acordou disposto a largar tudo aquilo que não estava fazendo bem aos dois. Ele sussurrou baixinho que não poderia mais levar aquela situação adiante. Mas fora um sussurro tão baixo e tão sofrido, que nem mesmo ela conseguiu entender. Foi então que ele precisou gritar aos quatro ventos que seu coração nunca foi e nunca seria dela, que o que ele sentia podia ser tudo, menos amor. E sim, foi tudo. Foi uma chance de amar novamente, uma chance de fugir da realidade, uma chance de finalmente reconstruir seu coração, que outrora havia sido quebrado. Mas amor, não. Amor nunca foi.

Ela também havia tido seu coração quebrado, mas não por amores passados, e sim por ele. E assim como aquela estação, ela estava desmoronando aos poucos. Sabia que podia fazer dele o cara mais feliz do mundo, mas não teve oportunidade. Ela sabia que ele guardava segredos capaz de assustar qualquer ouvinte, entretanto, não ela. 

Mas perdoa.

Perdoa, moça, esse pobre rapaz que não mais sabe amar. Perdoa se ele não pensou em você enquanto te beijava, perdoa se ele já sussurrou o nome de outra enquanto era você que ele tinha entre os braços, perdoa ele não ter jogado todas aquelas tralhas fora. Ele não conseguiu se desprender do passado. Então, perdoa. Perdoa se suas palavras de afeto não foram capazes de fazer aquele pobre coração se remendar. Perdoa o choro contido, as noites de insônia e aquela foto 3x4 que ele insistia em guardar no fundo da carteira. Perdoa a pessoa que ele não foi quando deveria ser. Perdoa os sábados, os domingos e os feriados sozinha no canto do sofá enquanto ele esquecia que deveria te ver e não pensar nela.

É que, moça, você não sabe o que um coração partido é capaz de fazer. Então, perdoa.