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27/07/2014

Um copo de desapego, por favor



Ei, garçom. Tá vendo aquele cara sentado àquela mesa? Aquele mesmo acompanhado daquela moça bonita. Olha só o jeito como ele a olha, fazendo-o parecer vulnerável, mas ele não tem nada disso. É tão seguro de seus atos quanto você possa imaginar. Pobre moça, ao olhar aqueles olhos que parecem inofensivos, deve achar que ele é diferente dos outros com quem ela deve ter se decepcionado.

Olha só, agora ele vai pegar a mão dela e elogiar o quão macia a pele dela é, e como o sorriso dela o encantou. Pobre moça, eu poderia dizer a ela para não cair nessa roubada, mas já é tarde, ela abaixou a cabeça e sorriu. Ele a ganhou. É assim com todas. Ficam tão vulneráveis com essas frases ensaiadas, que mal percebem a cilada em que estão se metendo.

Daqui a pouco eles vão sair daqui de mãos dadas. Ele pagará o quarto mais caro e romântico dessa cidade, e o resto... Bom, o resto você já sabe. Amanhã a moça chora e o moço sorri. Ah, é, garçom. Você deve estar se perguntando como eu sei de tudo isso. Mas olha lá eles passando, e como eu disse, de mãos dadas. Eu já estive sentada àquela mesa, bebendo o mesmo vinho e ouvindo as mesmas palavras. É, garçom, eu já fui aquela moça.

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